A máfia italiana e outras organizações criminosas internacionais
Quando falamos em máfia, muita gente imagina que todas as organizações criminosas funcionam de maneira semelhante. No entanto, a máfia italiana possui características únicas que a diferenciam claramente de outros grupos como cartéis mexicanos, gangues asiáticas ou facções brasileiras. Cada organização desenvolveu suas próprias regras, estruturas e métodos, adaptados ao seu contexto histórico, cultural e geográfico.
Assim, neste artigo, você vai entender quais são essas diferenças fundamentais, como elas afetam a forma de atuação desses grupos e por que a máfia italiana ainda mantém um modelo próprio — mesmo em um cenário global cada vez mais interligado.
Antes de tudo: o que define a máfia italiana?
A máfia italiana não é uma organização única. Na verdade, existem vários grupos mafiosos dentro da própria Itália, com suas particularidades:
- Cosa Nostra (Sicília);
- ‘Ndrangheta (Calábria);
- Camorra (Nápoles);
- Sacra Corona Unita (Puglia).
Apesar das diferenças internas, todas compartilham alguns elementos centrais:
- Estrutura familiar e hierárquica rígida;
- Código de silêncio (omertà);
- Infiltração política e empresarial;
- Controle territorial e econômico de comunidades;
- Longevidade histórica, com raízes que remontam ao século XIX.
Com isso, a máfia italiana se diferencia pela sua capacidade de combinar tradição com modernização estratégica.
Comparando com outras organizações criminosas internacionais
Agora, vamos analisar como a máfia italiana se distingue dos demais grupos criminosos globais.
1. Estrutura de comando
Máfia italiana:
Opera em clãs familiares, com uma hierarquia bem definida. Assim, cada membro sabe seu papel e sua posição. As famílias podem cooperar ou disputar territórios, mas obedecem a regras internas rígidas, supervisionadas por conselhos superiores, como La Commissione.
Cartéis mexicanos e latino-americanos:
Embora também tenham hierarquias, os cartéis são mais militarizados e muitas vezes liderados por uma figura central extremamente poderosa. O poder interno costuma ser disputado violentamente entre facções rivais.
Gangues asiáticas (Triades, Yakuza):
Mesclam rituais tradicionais com negócios modernos. Possuem estrutura hierárquica semelhante à máfia italiana, mas com maior formalização em aspectos culturais e empresariais.
Facções brasileiras:
Grupos como o PCC operam com uma combinação de hierarquia e flexibilidade, adaptando-se rapidamente às circunstâncias do sistema prisional e ao tráfico internacional.
2. Atuação e foco das atividades
Máfia italiana:
Além do tráfico de drogas, atua fortemente em:
- Extorsão;
- Lavagem de dinheiro sofisticada;
- Infiltração em contratos públicos;
- Controle de sindicatos e mercados legais.
Cartéis mexicanos:
O foco principal é o narcotráfico, com controle de rotas internacionais, sequestros, execuções públicas e forte enfrentamento militar.
Triades e Yakuza:
Atuam com grande diversificação, incluindo tráfico de pessoas, falsificação, jogo, extorsão empresarial e prostituição, mas com menor exposição pública.
Facções brasileiras:
Predominam no tráfico de drogas, controle de presídios, roubo de cargas e atividades de varejo nas periferias urbanas.
3. Nível de violência
Máfia italiana:
Prefere violência seletiva e controlada. Portanto, o assassinatos são planejados, visando garantir o sigilo e evitar comoção pública.
Cartéis mexicanos:
A violência é extrema e pública, com decapitações, torturas e exibições de força para intimidar rivais e autoridades.
Triades/Yakuza:
Costumam evitar violência aberta. Resolvem conflitos por negociações internas e preferem preservar a estabilidade do “negócio”.
Facções brasileiras:
A violência é constante, especialmente em disputas territoriais nas comunidades, com fuzis nas ruas e guerras internas frequentes.
4. Relação com o Estado e a sociedade
Máfia italiana:
Tem forte penetração nas instituições políticas, empresariais e administrativas. Sendo assim, prefere a corrupção à guerra aberta.
Cartéis mexicanos:
Corrompem autoridades, mas também enfrentam o Estado diretamente em algumas regiões, controlando cidades inteiras.
Triades/Yakuza:
Historicamente mantinham certa tolerância do Estado japonês, mas vêm sendo gradualmente pressionadas a desaparecer do cenário oficial.
Facções brasileiras:
Controlam comunidades com serviços paralelos, mas têm presença política indireta, muitas vezes comprando apoio local.
Por que a máfia italiana mantém seu modelo único?
Apesar do surgimento de novas organizações criminosas, a máfia italiana continua relevante por algumas razões-chave:
- Adaptação constante: moderniza sua lavagem de dinheiro e amplia investimentos legais.
- Baixa exposição pública: atua nos bastidores, evitando assim confrontos com o Estado.
- Tradição cultural: mantém códigos familiares e de lealdade, dificultando delações.
- Infiltração política profunda: mantém influência sobre legisladores, prefeitos e empresários.
Assim, seu poder muitas vezes passa despercebido pelo público em geral, mesmo estando presente em setores estratégicos da economia.
Conclusão: mafias diferentes, perigos iguais
Embora a máfia italiana tenha um modelo muito distinto de outras organizações criminosas internacionais, todas representam enormes desafios à segurança pública, à justiça e à democracia. Cada uma atua de acordo com seu contexto social, histórico e econômico, mas todas têm em comum a busca pelo lucro, o uso do medo e o enfraquecimento das instituições legais.
Sendo assim, para combatê-las com eficácia, é essencial entender suas diferenças estruturais, suas estratégias específicas e suas formas de infiltração, criando ações personalizadas para desmantelar esses impérios criminosos.
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