A máfia italiana no exterior: EUA, Alemanha e América Latina
A máfia italiana, embora enraizada em solo europeu, não se limitou às fronteiras da Itália. Sendo assim, ao longo do século XX e início do XXI, suas ramificações cruzaram oceanos e se estabeleceram em diversos países, aproveitando brechas legais, fluxos migratórios e alianças locais para expandir suas operações. Nesse processo, surgiram redes poderosas que ainda hoje influenciam economias e políticas em diferentes partes do mundo.
Neste artigo, vamos analisar como a máfia italiana se estabeleceu em três contextos internacionais: Estados Unidos, Alemanha e América Latina — e como sua presença nesses territórios transformou o crime organizado global.
A expansão para os Estados Unidos
A chegada da máfia italiana aos Estados Unidos coincide com as grandes levas de imigrantes italianos, especialmente entre 1880 e 1920. Muitos fugiam da pobreza extrema no sul da Itália, mas junto com eles vieram também membros e simpatizantes de organizações mafiosas, como a Cosa Nostra.
Formação da máfia ítalo-americana
Nos EUA, esses grupos se organizaram rapidamente em famílias criminosas, cada uma controlando determinados territórios urbanos, como Nova York, Chicago e Nova Orleans. Os nomes mais conhecidos, como Al Capone, Lucky Luciano e Vito Genovese, se tornaram lendas do submundo e símbolos da fusão entre a máfia tradicional e o estilo americano de gangsterismo.
Assim, essas famílias se envolveram em:
- Contrabando de bebidas durante a Lei Seca
- Jogos de azar e cassinos ilegais
- Apostas esportivas
- Tráfico de drogas
- Extorsão de comerciantes locais
- Infiltração em sindicatos
Ao longo do século XX, a máfia ítalo-americana consolidou um império de influência, com conexões políticas, policiais e empresariais. Mesmo enfraquecida nos anos recentes, ela permanece ativa em diversas regiões.
A presença discreta, porém firme, na Alemanha
A Alemanha, embora menos associada publicamente à máfia italiana, tornou-se um dos destinos estratégicos mais importantes da ‘Ndrangheta, a organização criminosa originária da Calábria.
Por que a Alemanha?
- Sistema bancário eficiente e menos burocrático
- Mercado imobiliário aquecido
- Falta de legislação específica contra organizações estrangeiras
- Alto fluxo de comércio internacional
Desse modo, esses fatores tornaram cidades alemãs como Duisburg, Stuttgart e Munique pontos-chave para lavagem de dinheiro e investimento da máfia italiana.
O caso Duisburg (2007)
Um dos episódios mais emblemáticos da atuação da máfia italiana na Alemanha foi o massacre de Duisburg, em 2007. Seis membros de uma família rival foram assassinados em frente a uma pizzaria. O caso expôs a guerra interna da ‘Ndrangheta e alertou o governo alemão para a presença de organizações mafiosas em seu território.
Desde então, autoridades europeias intensificaram a cooperação internacional para rastrear ativos e prender membros de clãs instalados na Europa Central.
A influência silenciosa na América Latina
Na América Latina, a máfia italiana operou por décadas em silêncio, utilizando o continente como rota de tráfico, centro de lavagem de dinheiro e refúgio para criminosos foragidos.
Países com maior presença documentada:
- Brasil: redes de lavagem de dinheiro no setor imobiliário e exportações ilegais de madeira e minérios
- Argentina: movimentação financeira clandestina ligada à ‘Ndrangheta, especialmente em Buenos Aires
- Uruguai e Paraguai: uso de zonas francas para escoar capital ilícito e importar produtos falsificados
- Colômbia: parceria estratégica com cartéis de drogas, fornecendo logística para distribuição na Europa
Embora raramente chamem atenção da imprensa, investigações nos últimos anos revelaram que diversos clãs mafiosos utilizam empresas latino-americanas como fachada para reinvestir seus lucros.
Cooperação internacional e operações conjuntas
O avanço da máfia italiana no exterior obrigou as autoridades italianas a estreitarem laços com polícias e agências internacionais. Portanto, algumas ações importantes incluem:
- Operação Stige (2018): prendeu membros da ‘Ndrangheta em cinco países
- Operação Pollino (2019): ação conjunta entre Itália, Alemanha, Holanda e Bélgica contra o tráfico internacional
- Acordos bilaterais com o FBI, Europol e Interpol, que permitem compartilhamento de dados, extradições e bloqueios de contas
Essa cooperação é fundamental para combater um inimigo que não respeita fronteiras.
Conclusão: a máfia é um fenômeno global
A presença da máfia italiana no exterior mostra que o crime organizado evoluiu de forma inteligente, estratégica e silenciosa. Assim, através de migrações, alianças e negócios disfarçados, ela espalhou seus tentáculos pelo mundo, operando em mercados legais e ilegais com eficiência assustadora.
Portanto, combatê-la exige mais do que ações locais: é preciso uma rede global de inteligência, cooperação entre países e políticas públicas que tornem o ambiente econômico e institucional menos vulnerável à corrupção e à infiltração criminosa.
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