A máfia no Brasil: o que sabemos sobre organizações locais

máfia no Brasil

Quando se fala em máfia, é comum pensar na Sicília, em Nova York ou na Calábria. Contudo, o Brasil também possui organizações criminosas estruturadas, com características semelhantes às máfias tradicionais. Embora o termo “máfia” nem sempre seja usado formalmente pelas autoridades brasileiras, diversos grupos operam com hierarquia, códigos internos e forte presença territorial.

Neste artigo, você vai entender o que configura uma “máfia” no contexto brasileiro, quais organizações se encaixam nesse perfil e como elas atuam no país — com especial atenção ao uso crescente de estratégias empresariais e político-institucionais.

Afinal, existe máfia no Brasil?

Tecnicamente, o Brasil não possui uma máfia nos moldes da Cosa Nostra italiana, com estrutura familiar centenária e influência cultural enraizada. No entanto, o país abriga facções e grupos paramilitares que operam com:

  • Organização hierárquica;
  • Divisão clara de tarefas;
  • Códigos internos de conduta;
  • Capacidade de infiltração no poder público;
  • Controle sobre territórios e comunidades inteiras.

Portanto, ainda que o rótulo “máfia” não seja utilizado oficialmente, muitas dessas organizações funcionam como verdadeiras máfias locais.

Facções criminosas com estrutura mafiosa

Ao analisar as principais facções criminosas do Brasil, percebe-se que algumas delas possuem elementos típicos de uma máfia, especialmente no que diz respeito ao controle territorial, extorsão e estrutura de comando.

Primeiro Comando da Capital (PCC)

  • Fundado em São Paulo, no início dos anos 1990, o PCC cresceu dentro do sistema carcerário.
  • Atualmente, controla grande parte do tráfico de drogas no Sudeste e tem forte atuação em negócios ilícitos fora das prisões.
  • A organização possui regras rígidas, como “disciplina”, “respeito” e “resolução interna de conflitos”.
  • Assim como a máfia italiana, o PCC se utiliza de códigos e juramentos para garantir lealdade.

Comando Vermelho (CV)

  • Surgido no Rio de Janeiro, o CV tem origem em alianças entre criminosos comuns e presos políticos durante a ditadura militar.
  • Atua no tráfico de drogas e armas, além de explorar comunidades com cobranças por “proteção” e “autorizações” para comércio.
  • A facção também participa de disputas territoriais violentas, algo que remete às guerras entre clãs mafiosos italianos.

Ambas as facções demonstram capacidade de articulação nacional e internacional, especialmente com países produtores de cocaína, como Bolívia e Colômbia — o que reforça o paralelo com máfias transnacionais.

As milícias como modelo de máfia local

Além das facções, as milícias também se destacam como organizações que reproduzem padrões mafiosos, principalmente no estado do Rio de Janeiro.

Inicialmente formadas por policiais e ex-policiais, as milícias:

  • Controlam bairros e comunidades;
  • Cobram taxas mensais de moradores e comerciantes;
  • Vendem serviços de gás, internet e transporte alternativo;
  • Impõem regras próprias e punem quem desobedece.

De maneira semelhante à máfia tradicional, as milícias atuam como um “Estado paralelo”, substituindo serviços públicos, exercendo justiça própria e estabelecendo normas de conduta para os moradores.

Além disso, muitos milicianos disputam cargos políticos ou financiam campanhas, o que cria um ciclo de proteção institucional e impunidade.

Como essas organizações lavam dinheiro?

Assim como as máfias italianas, as organizações criminosas brasileiras também utilizam métodos sofisticados de lavagem de dinheiro. Entre os principais, podemos destacar:

  • Empresas de fachada no ramo de construção, transporte e eventos;
  • Investimentos imobiliários em nome de laranjas;
  • Movimentação bancária em contas de terceiros, muitas vezes por meio de fintechs;
  • Parcerias com políticos e empresários para obtenção de contratos públicos.

Essas operações permitem que o dinheiro obtido com tráfico, extorsão e corrupção entre no sistema financeiro legal, dificultando o rastreamento pelas autoridades.

A atuação política e institucional

Embora em menor escala do que na Itália, a infiltração política é uma realidade no Brasil. Diversos relatórios apontam para a presença de vereadores, prefeitos e até deputados estaduais ligados a milícias ou facções.

Além disso, a corrupção policial continua sendo um obstáculo grave. Em muitos casos, agentes da segurança pública atuam como informantes, protetores ou até executores dos interesses de organizações criminosas.

Esse cenário revela que o poder dessas organizações vai além das armas: ele está na capacidade de influenciar decisões políticas e legais, algo essencial para a sobrevivência de qualquer máfia.

O controle sobre comunidades inteiras

Outro traço típico das máfias que se repete no Brasil é o domínio territorial. Em várias comunidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Nordeste, moradores vivem sob a regência direta de facções ou milícias. Essas organizações:

  • Proíbem certas roupas ou músicas;
  • Estabelecem toques de recolher;
  • Censuram redes sociais e veículos de imprensa locais;
  • Interferem em eleições e decisões comunitárias.

Esse tipo de controle lembra, em muitos aspectos, a omertà — o pacto de silêncio imposto pela máfia siciliana.

O que o Estado brasileiro tem feito

Nos últimos anos, o Estado brasileiro intensificou o combate às organizações criminosas com ações como:

  • Investigações da Polícia Federal e do Ministério Público;
  • Prisões de líderes de facções e milícias;
  • Confisco de bens e bloqueio de contas;
  • Criação de núcleos especializados, como o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco);
  • Colaboração internacional com agências como a DEA e a Interpol.

No entanto, o sucesso dessas ações é muitas vezes prejudicado pela falta de continuidade, pressão política e fragilidade institucional.

Conclusão: existe sim uma máfia brasileira?

Embora não usemos oficialmente o termo “máfia” para nos referir às organizações criminosas no Brasil, é inegável que elas compartilham várias características fundamentais com as máfias clássicas, como:

  • Estrutura organizada;
  • Controle territorial;
  • Atuação econômica e política;
  • Lealdade interna e códigos próprios;
  • Capacidade de infiltração no Estado.

Portanto, é possível afirmar que o Brasil possui máfias sim — ainda que com identidade própria, dinâmica regional e raízes locais.

Entender essa realidade é essencial para formular políticas públicas mais eficazes e proteger a sociedade de um mal que, embora silencioso, age com força nos bastidores do poder e das periferias.

Somos fascinados pelos bastidores de organizações que mudaram o rumo de países e sociedades, e queremos compartilhar essas histórias com você, leitor que busca conhecimento, curiosidade histórica e informação de qualidade.

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