O papel das mulheres nas organizações mafiosas
Quando pensamos em máfia, é comum imaginar figuras masculinas: chefes poderosos, soldados armados, conselheiros influentes. No entanto, as mulheres também desempenham papéis importantes dentro das organizações mafiosas, embora frequentemente invisibilizadas. Ao longo do tempo, elas passaram de coadjuvantes silenciosas a personagens ativas e, por vezes, decisivas nos bastidores — e, em alguns casos, até na liderança.
Neste artigo, você vai conhecer como as mulheres atuam nas máfias, quais são suas funções mais comuns, por que muitas delas são subestimadas e de que forma seu papel tem evoluído nas últimas décadas.
De início, qual é a imagem tradicional da mulher na máfia?
Historicamente, as máfias — como a Cosa Nostra, a Camorra e a ‘Ndrangheta — foram organizações profundamente patriarcais. Nesse contexto, o papel das mulheres era limitado principalmente a:
- Esposas que cuidavam da casa e dos filhos;
- Mães que protegiam os segredos da família;
- Filhas criadas para obedecer e casar-se com aliados do clã.
Além disso, essas mulheres eram educadas dentro de uma cultura de silêncio, sendo orientadas a nunca questionar as decisões dos homens, nem muito menos denunciar qualquer atividade criminosa.
Por conseguinte, durante muito tempo, a presença feminina foi subestimada pelas autoridades e pela própria mídia.
Com o tempo, como as mulheres ganharam espaço?
Nas últimas décadas, diversos fatores contribuíram para o crescimento da participação feminina em papéis mais ativos nas máfias. Entre os principais, destacam-se:
- A prisão ou morte de líderes masculinos;
- A necessidade de continuidade das operações do clã;
- A busca por menor visibilidade, usando mulheres como intermediárias;
- A modernização das organizações, que passaram a aceitar mais flexibilidade em suas hierarquias.
Assim, muitas mulheres passaram a administrar negócios ilegais, coletar dinheiro de extorsão, negociar com outras famílias mafiosas e até ordenar assassinatos.
Exemplos de mulheres influentes na máfia
Embora ainda sejam minoria em cargos de chefia, várias mulheres se destacaram por sua atuação firme no submundo mafioso. A seguir, veja alguns exemplos que ajudam a ilustrar essa realidade.
Giuseppina Pesce – A herdeira rebelde da ‘Ndrangheta
Membro de uma das famílias mais poderosas da Calábria, Giuseppina cresceu cercada pela lógica mafiosa. No entanto, após anos atuando como gestora dos negócios do clã, ela se tornou uma das mais importantes colaboradoras da Justiça italiana.
Sua delação revelou detalhes complexos da ‘Ndrangheta e desafiou o estereótipo da mulher mafiosa passiva.
Maria Licciardi – A “chefa” da Camorra
Conhecida como “La Piccoletta”, Maria assumiu o comando do clã Licciardi em Nápoles após a prisão de seus irmãos. Demonstrou habilidade tática e negociadora, conseguindo unificar vários clãs e ampliar os lucros do grupo com o tráfico de drogas e prostituição.
Ela representa a figura de mulher no comando pleno da estrutura mafiosa, algo ainda incomum, mas não inédito.
Patrizia D’Addario – A voz que expôs as conexões entre máfia e política
Embora não fosse uma mafiosa, Patrizia ganhou notoriedade ao revelar envolvimento de figuras públicas e empresários com redes ligadas ao crime organizado. Sua coragem reforça o papel das mulheres como denunciadoras e agentes de ruptura.
Quais são os papéis femininos mais comuns nas máfias?
De maneira geral, as mulheres desempenham funções que, embora muitas vezes invisíveis, são fundamentais para a manutenção do poder mafioso. Entre elas, estão:
- Mensageiras, responsáveis por levar ordens entre prisioneiros e membros do clã;
- Administradoras dos bens da família e empresas de fachada;
- Gestoras de dinheiro, especialmente na lavagem de lucros ilícitos;
- Educadoras da próxima geração, garantindo a perpetuação da cultura mafiosa;
- Representantes legais, usando nomes limpos para registrar empresas e propriedades.
Ainda que em segundo plano, essas funções oferecem suporte estratégico para as atividades criminosas — e mostram como o poder feminino na máfia, embora sutil, é eficiente.
Por que as autoridades demoraram a perceber esse papel?
Durante muito tempo, os investigadores focaram exclusivamente nos homens, considerando as mulheres como figuras subordinadas. Além disso, a atuação feminina era muitas vezes disfarçada sob o papel de “dona de casa”, dificultando a identificação de sua real importância nas operações criminosas.
Somente a partir das décadas de 1990 e 2000, com o avanço das investigações financeiras e das delações premiadas, é que a Justiça passou a reconhecer a participação ativa de muitas mulheres no crime organizado.
E quanto às mulheres que desafiam a máfia?
Curiosamente, o maior impacto feminino na história da máfia veio de dentro para fora. Várias mulheres decidiram romper com as estruturas criminosas e colaborar com a Justiça, apesar dos riscos.
Essas mulheres enfrentam:
- Rejeição da própria família;
- Ameaças de morte;
- Exclusão social e emocional.
Mesmo assim, suas ações provocam danos reais às organizações mafiosas, pois expõem segredos, rotas, códigos e estratégias internas. Além disso, servem de inspiração para outras mulheres que vivem sob domínio mafioso.
O papel das mulheres nas máfias hoje
Atualmente, o cenário é ambíguo. Por um lado, as máfias continuam operando sob forte estrutura patriarcal, com homens tomando as principais decisões. Por outro lado, a presença de mulheres em posições estratégicas vem crescendo.
A mudança é lenta, mas progressiva. A modernização das máfias — especialmente com sua atuação em crimes cibernéticos e no sistema financeiro — exige perfis mais diversos, incluindo mulheres preparadas e instruídas.
Além disso, o aumento da presença feminina nos sistemas judiciários e investigativos contribui para um olhar mais atento sobre o papel das mulheres nos esquemas criminosos.
Conclusão: elas sempre estiveram lá
Apesar de historicamente ignoradas, as mulheres sempre desempenharam papéis importantes dentro das máfias — seja como sustentadoras do silêncio, transmissoras de valores ou gestoras de negócios ocultos. Hoje, à medida que o crime organizado evolui, elas assumem papéis ainda mais visíveis e decisivos, seja no comando, seja na quebra do ciclo de violência.
Compreender o papel feminino nas máfias é essencial para ampliar a eficácia do combate ao crime organizado e, ao mesmo tempo, reconhecer as múltiplas dimensões desse fenômeno tão complexo.
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