Quem foi Salvatore Riina: a mente por trás da Cosa Nostra

Salvatore Riina, conhecido como “Totò Riina”

Salvatore Riina, conhecido como “Totò Riina”, foi um dos mafiosos mais temidos da história da máfia italiana. Ele construiu uma trajetória marcada por uma ascensão brutal dentro da Cosa Nostra, impôs uma violência implacável e comandou uma era de terror que desafiou diretamente o Estado italiano. Este artigo mergulha na vida, nos crimes e no legado desse personagem sombrio que comandou a máfia com punho de ferro.

Infância e juventude em Corleone

Salvatore Riina nasceu em Corleone, uma pequena cidade na província de Palermo, na Sicília, em 16 de novembro de 1930. Corleone já era conhecida por sua ligação histórica com a máfia, mas Riina transformaria o nome da cidade em um símbolo global de crime organizado.

Sua infância foi marcada pela pobreza extrema. Aos 13 anos, perdeu o pai em um acidente ao tentar desmontar uma bomba da Segunda Guerra Mundial. Ainda adolescente, Riina entrou no mundo do crime, cometendo pequenos delitos até se envolver com a máfia local, liderada na época por Luciano Liggio.

A ascensão na Cosa Nostra

Na década de 1950, Riina se tornou um braço direito de Liggio. Quando Liggio assassinou Michele Navarra, médico e chefe da máfia de Corleone, Totò Riina participou do crime e passou a ser uma figura influente no clã.

Durante os anos 1960 e 1970, ele consolidou sua posição por meio de alianças estratégicas e eliminação brutal de rivais. Desse modo, era temido por sua frieza e capacidade de mandar matar sem hesitação.

Com o tempo, ele lideraria os chamados “Corleonesi”, um grupo que tomou o controle da Cosa Nostra com violência sem precedentes.

A Segunda Guerra da Máfia

Entre o final da década de 1970 e início dos anos 1980, Riina iniciou o que ficou conhecido como Segunda Guerra da Máfia, um conflito interno sangrento dentro da Cosa Nostra. Seu objetivo era eliminar os chefes tradicionais da máfia de Palermo para que os Corleonesi assumissem o comando total.

A guerra resultou no assassinato de mais de mil pessoas, incluindo mafiosos, familiares e até inocentes. Riina mandou matar até mesmo antigos aliados que poderiam representar ameaça.

Um dos exemplos mais emblemáticos foi a execução de Stefano Bontade, um dos mafiosos mais poderosos da Sicília, morto a tiros em 1981.

O poder absoluto

Na década de 1980, Riina era o chefe indiscutível da máfia siciliana. Controlava redes de extorsão, tráfico de drogas, contratos públicos e lavagem de dinheiro. Seu poder se estendia por toda a Itália e tinha influência internacional, principalmente nos EUA.

Porém, seu maior diferencial era sua relação direta com a violência política. Riina rompeu com a “discrição” tradicional da máfia e passou a atacar frontalmente o Estado italiano.

Os assassinatos de juízes e autoridades

Totò Riina assumiu a responsabilidade por ordenar os assassinatos de duas figuras-chave no combate à máfia:

  • Giovanni Falcone, juiz antimáfia, morto em 1992 em uma explosão na estrada entre o aeroporto de Palermo e a cidade. Sua esposa e três seguranças também morreram.
  • Paolo Borsellino, colega e amigo de Falcone, morto dois meses depois, também com uma bomba em Palermo.

Esses atentados foram um choque nacional e internacional. Pela primeira vez, a máfia não apenas atacava rivais, mas também símbolos do Estado de direito.

Prisão e julgamento

Depois de passar 24 anos na clandestinidade, as autoridades capturaram Riina em 15 de janeiro de 1993, em Palermo. A operação que resultou em sua prisão marcou um ponto decisivo na luta contra a máfia.

Porém, mesmo preso, Riina continuou a influenciar a Cosa Nostra por algum tempo, sendo condenado a diversas sentenças de prisão perpétua por homicídio, tráfico de drogas, associação mafiosa e terrorismo.

A morte de Riina

Salvatore Riina morreu em 17 de novembro de 2017, um dia após completar 87 anos, em uma prisão de segurança máxima na cidade de Parma. Morreu em silêncio, sem nunca mostrar arrependimento.

Seu funeral não foi público, por ordem das autoridades italianas, e nenhuma cerimônia religiosa oficial foi autorizada. O governo considerou que um funeral público poderia ser usado como homenagem ao crime organizado.

O legado de terror

O legado de Totò Riina é de terror, sangue e destruição, assim ele transformou a máfia em uma organização militarizada, impiedosa, que desafiou o próprio Estado. No entanto, sua crueldade também gerou uma reação inédita da sociedade e das instituições italianas.

A morte de Falcone e Borsellino mobilizou milhões de italianos e impulsionou a criação de leis mais duras contra o crime organizado, além de fortalecer o papel da Direzione Investigativa Antimafia (DIA).

Lições de uma era sombria

Em suma, a era Riina mostra o que acontece quando o crime encontra espaço para se estruturar como poder paralelo. Seu reinado foi possível porque contou, por décadas, com omissão, medo e conivência de setores da sociedade.

Hoje, mesmo que a Cosa Nostra ainda exista, o terror explícito da era Riina é coisa do passado. Sua história serve, portanto, como alerta e lembrete da importância da justiça, da transparência e da coragem cívica.

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